Aumento no preço do cacau impacta valor de chocolates e vendas na Páscoa de 2024

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O aumento global do preço do cacau, que subiu cerca de 180% nos últimos dois anos, está influenciando o custo dos produtos de chocolate, tanto para o mercado permanente quanto para a Páscoa. Esse crescimento de preço foi impulsionado principalmente pela quebra de safra nos grandes produtores africanos, especialmente no segundo semestre do ano passado. A expectativa é que a instabilidade no setor continue, com a Costa do Marfim, maior produtora mundial, enfrentando efeitos de calor e seca. “Isso vai influenciar o desenvolvimento da planta, a brotação e a formação dos frutos, e com isso uma menor oferta”, declarou Letícia Barony, assessora técnica da comissão nacional de fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Em Gana, segundo maior produtor, Barony considera haver sinais de recuperação, com o governo local divulgando perspectivas de colheita mais atrativas, que podem equilibrar a oferta. No Brasil, que é o sexto maior produtor mundial, as projeções indicam aumento de safra após anos de queda. Com 90% de sua produção concentrada nos estados do Pará e da Bahia, o país produz cerca de 300 mil toneladas de cacau anualmente. “A gente percebe, ainda assim, muita volatilidade e incerteza dentro do mercado, tanto em relação à oferta, quanto em relação à demanda e principalmente aos preços que esses produtos serão ofertados. Isso pega toda a cadeia de valor, não só na amêndoa de cacau, mas nas indústrias moageiras, indústrias de derivação e também na disponibilização desses produtos ao consumidor”, completou ela.

A CNA considera que os investimentos em áreas não tradicionais, como o cerrado baiano, o norte de Minas Gerais e o oeste da Bahia, onde o cultivo a pleno sol é feito com sistemas modernos de irrigação e tecnologia avançada, vão garantir aumento de produtividade. Além disso, a consolidação de tecnologias beneficia o processamento do cacau no Brasil, tanto para o mercado interno quanto para a exportação de produtos com maior valor agregado.

No setor de chocolates, a produção de ovos de Páscoa deve encolher 20% este ano em comparação com 2023, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Por outro lado, o setor anunciou a criação de cerca de 9,6 mil vagas temporárias, 26% a mais do que no ano anterior, com previsão de que 20% dos trabalhadores sejam efetivados. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informa que o preço dos ovos de chocolate e itens relacionados subiu, enquanto os ovos de páscoa apresentam uma alta média de 14% e as colombas pascais ficaram 5% mais caras. Para enfrentar as dificuldades, a estratégia inclui a diversificação de portfólio, com ênfase em produtos menores e mais acessíveis.

O impacto da alta no preço do cacau é sentido tanto no atacado quanto no varejo. Lojas de grande porte já apresentam ovos de Páscoa acima de R$ 70. Pequenos produtores, como a chef Dayane Cristin, de Osasco, têm sido obrigados a buscar alternativas. Especialista em trufas e doces caseiros, Dayane pesquisa semanalmente preços em três lojas especializadas da região para encontrar fornecedores competitivos. “Eu vou cotando, o preço do chocolate tem aumentado, e em alguns lugares produtos como o chocolate branco estão em falta. Eu tenho me organizado, comprado em grande quantidade e com isso consigo um valor menor”, revelou. Mesmo assim, ela precisou reajustar o valor das trufas de R$ 3 para R$ 4 no início do ano. Além do cacau, produtos como leite condensado, creme de leite e frutas também tiveram altas consideráveis. Apesar da incerteza, sua meta de faturamento para a Páscoa varia entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, principalmente com o foco na venda de ovos de colher. “As caixas dos ovos estão muito caras, mas apesar das dificuldades, estou bem animada com a data”, relata Dayane.

Letícia Barony destaca que a incorporação de novas tecnologias no cultivo e na cadeia produtiva gera avanços expressivos. Processos como fermentação, quebra do cacau e armazenagem são melhorados, aumentando eficiência, a qualidade do produto e a competitividade no mercado. Esses avanços reverberam, inclusive, na política externa brasileira. Representantes do Brasil participaram de uma missão à África, promovida pelo Itamaraty, com visita a Costa do Marfim, Gana e Nigéria, resultando em assinaturas de termos de cooperação tecnológica. Segundo dados da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), embora esses países sejam responsáveis por 60% das lavouras globais, eles concentram apenas 6% da renda do setor. “Uma organização dos cinco maiores produtores pode ajudar a aumentar a renda daqueles que estão na base da cadeia de produção”, afirmou a Apex.

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