A compra da casa própria está entre os sonhos de muitos brasileiros. Conforme aponta a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2024, 38,8% da população do país tem esse desejo. Além de representar um objetivo de vida, adquirir um imóvel geralmente implica no compromisso financeiro mais significativo, envolvendo financiamentos de longo prazo e exigindo planejamento, disciplina e uma análise cuidadosa das finanças pessoais.
Segundo Ricardo de Almeida, diretor financeiro do Cartão de TODOS, o cenário econômico atual não pode ser ignorado na hora de tomar essa decisão. “Hoje, por exemplo, a taxa Selic está em 14,25% ao ano, o que tem impacto direto sobre os juros cobrados nos financiamentos”, explica. Ele destaca que a alta da Selic torna o crédito mais caro, incluindo o financiamento habitacional. “Juros maiores significam parcelas mais altas e, ao final, um imóvel que pode custar muito mais do que o valor anunciado”, acrescenta.
Para ajudar na conquista da casa própria de forma segura, Ricardo de Almeida compartilha 9 dicas práticas. Confira:
1. Comece com um planejamento orçamentário
O primeiro passo é compreender a situação financeira atual da família. Isso consiste em:
– Analisar as entradas e saídas do orçamento mensal;
– Identificar quanto pode ser reservado;
– Estabelecer uma meta de valor e prazo para a aquisição do imóvel.
“O ideal é montar uma reserva não apenas para a entrada, mas também para custos com documentação e eventuais imprevistos”, orienta Ricardo de Almeida.
2. Evite erros comuns
A empolgação com a ideia de sair do aluguel pode levar a decisões precipitadas. Segundo Ricardo de Almeida, entre os erros mais frequentes estão:
– Ignorar custos como ITBI (2% do valor do imóvel), escritura e registro (entre 1,5% e 2,5%);
– Assumir parcelas altas que comprometem demais o orçamento;
– Não prever despesas adicionais, como condomínio, IPTU e manutenção.
“Esses custos somados podem ser equivalentes a até 5% do valor do imóvel, o que exige planejamento prévio”, alerta.
3. Comprometa no máximo 30% da renda
Para evitar problemas financeiros, o valor das parcelas ou do montante poupado mensalmente não deve ultrapassar 30% da renda líquida familiar. “É essencial garantir uma análise financeira doméstica criteriosa para evitar apertos que prejudiquem o bem-estar da família”, destaca o economista.
4. Comprar ou continuar no aluguel?
A decisão depende do momento de vida e da estabilidade financeira. “Se o aluguel está dentro do orçamento e você ainda precisa de flexibilidade, pode ser melhor esperar. Agora, se encontrou uma boa oportunidade e tem estabilidade, comprar pode ser um bom investimento”, pondera Ricardo de Almeida.
5. Escolha o tipo de financiamento com atenção
Além dos juros divulgados, é indispensável considerar o Custo Efetivo Total (CET), que inclui tarifas extras, seguros e taxas administrativas. Quanto aos tipos de financiamento, Ricardo de Almeida explica:
– SAC (Sistema de Amortização Constante): parcelas começam mais altas e diminuem com o tempo.
– Tabela Price: as parcelas permanecem fixas do início ao fim.
“Imagine um financiamento de R$ 300 mil em 30 anos. Na SAC, a primeira parcela pode ser por volta de R$ 3.000 e vai caindo ao longo do tempo. Na Price, o valor inicial pode ser R$ 2.500, e as parcelas permanecem constantes”, exemplifica.
De acordo com o economista, calcular e simular modelos com diferentes instituições é fundamental para tomar uma decisão que faça sentido para o orçamento atual e futuro.
6. Avalie se a parcela cabe no orçamento
Além de respeitar o limite de 30% da renda líquida, é necessário analisar o quadro financeiro como um todo: considerar despesas fixas e variáveis, manter uma reserva de emergência, quitar dívidas pendentes e ter uma visão sólida a longo prazo. “O ideal é que a prestação seja confortável, sem demandar cortes drásticos no orçamento familiar”, afirma Ricardo de Almeida.
7. Investir antes de comprar à vista pode ser vantajoso
No cenário de juros altos, investir o valor da entrada pode ser mais estratégico do que financiar. “Se uma aplicação rende 13% ao ano e o financiamento cobra 14,25% ao ano, pode fazer mais sentido investir por um tempo e comprar depois. Porém, isso exige disciplina e perfil para esperar”, aponta o especialista.
8. Existe idade ideal para comprar?
Embora não exista uma idade certa, começar o planejamento cedo garante maior tranquilidade. “O prazo médio de financiamento no Brasil dura entre 20 e 30 anos. Quem começa aos 30 pode quitar aos 60. Contudo, quem está na faixa dos 50 ou 60 anos também pode adquirir um imóvel, desde que as condições se ajustem à sua realidade atual e futura”, afirma o economista.
9. Perfil do comprador interfere no planejamento
O planejamento para adquirir um imóvel varia de acordo com o perfil do comprador. “Solteiros possuem mais flexibilidade, enquanto casais e famílias devem considerar fatores como estrutura, localização, escolas e mobilidade”, explica Ricardo de Almeida. Ele destaca também que “casais e famílias têm a vantagem de somar suas rendas, facilitando a aprovação do crédito e o acesso a melhores imóveis”. Já para profissionais autônomos, é essencial atenção especial na comprovação de renda e na manutenção de uma reserva robusta.
Por fim, Ricardo de Almeida reforça que conquistar a casa própria é uma meta alcançável com foco, paciência e planejamento. “Independentemente da idade, perfil ou momento de vida, o mais importante é começar: entender sua realidade financeira, definir metas claras e buscar informações confiáveis”, conclui.