Cidades do centro-sul do Brasil enfrentaram uma brusca queda de temperatura durante esta semana. Em algumas localidades, foram registradas mínimas negativas e até neve. Mais baixas do que as temperaturas reais medidas pelas estações meteorológicas, estava a sensação térmica.
Afinal, o que é sensação térmica?
Sensação térmica não é o mesmo que temperatura. Trata-se da forma como o corpo humano percebe a temperatura ambiente, e essa percepção pode ser distinta do valor indicado num termômetro. Em outras palavras, a sensação térmica reflete como o corpo realmente ‘sente’ o frio ou o calor, independentemente da temperatura registrada.
“Sensação térmica é mais realista e útil à população do que apenas a temperatura do ar”, afirmou Edgar Koester, professor e coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Estácio, em entrevista ao UOL.
Como a sensação térmica é calculada?
Existem diferentes modos de cálculo, e não há consenso entre os meteorologistas. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) utiliza o índice UCTI (Índice Climático Térmico Universal, na sigla em inglês), desenvolvido pela Comissão de Climatologia da OMM (Organização Meteorológica Mundial). Este índice considera variáveis como temperatura, vento, umidade e radiação solar. Para definir a sensação térmica, são analisadas as respostas fisiológicas do metabolismo humano diante dessas condições ambientais, explicou a meteorologista do Inmet, Morgana Almeida, ao UOL.
“Amplamente difundido, o UCTI é um pouco diferente dos demais índices porque, além do aspecto ambiental, tem uma abordagem da questão fisiológica. Ele analisa como variáveis ambientais afetam um ser humano padrão, com uma determinada característica metabólica”, disse Almeida.
O índice UCTI foi testado em uma tese de doutorado em 2017 e, posteriormente, adotado pelo Inmet para calcular a sensação térmica, sendo disponibilizado ao público em 2020.
Mas como o vento e a umidade influenciam no funcionamento do nosso corpo?
Em dias quentes, a alta umidade do ar aumenta a sensação térmica, pois o suor — mecanismo utilizado pelo corpo humano para regular sua temperatura — encontra dificuldade em evaporar, causando maior desconforto. Além disso, radiação solar direta contribui para elevar a sensação térmica. Por outro lado, o vento pode atuar de forma benéfica ou prejudicial: em dias quentes, ajuda a dissipar o calor, tornando a sensação mais agradável, enquanto, em dias frios, acelera a perda de calor, fazendo com que a temperatura pareça mais baixa.
Temperatura e sensação térmica variam muito?
Sim, a variação pode ser significativa. Na última quarta-feira, por exemplo, a cidade de Bagé (RS) registrou uma sensação térmica de -12,3ºC às 7h, mesmo com a temperatura real de 2,4ºC. Já em São Paulo, a diferença foi menor e inversa. Os dados do instituto indicaram uma média de temperatura mínima de 6,1ºC às 10h, enquanto a sensação térmica alcançou 7,9ºC.
Os dados podem ser conferidos no site do Inmet, com informações atualizadas de hora em hora tanto sobre temperaturas medidas quanto sobre a sensação térmica calculada.
Na ciência, porém, sensação térmica quer dizer outra coisa
A meteorologista Morgana Almeida explicou que o termo popularmente utilizado para descrever a sensação térmica corresponde, na ciência, à ideia de estresse térmico. Segundo ela, “sensação térmica é sinônimo de conforto térmico” e está relacionada à “percepção psicológica de conforto ou desconforto em relação a um ambiente, seja quente ou frio”. Pessoas que vivem em determinadas regiões climáticas possuem maior adaptação às condições locais, o que interfere em sua percepção. “Quando uma pessoa que é do norte vai para o sul, sua percepção vai ser diferente e ela vai levar mais tempo para fazer essa adaptação”, destacou Almeida.
Vale ressaltar que, apesar disso, o próprio Inmet utiliza o termo sensação térmica, em seu site, no sentido de estresse térmico.
Por fim, por que a sensação térmica importa?
A sensação térmica desempenha um papel fundamental no planejamento e no cuidado com a saúde. “Ela ajuda na prevenção de problemas de saúde, como desidratação, insolação ou hipotermia, e também orienta decisões cotidianas, como a escolha de roupas, o planejamento de atividades ao ar livre ou a necessidade de buscar abrigo”, destacou Edgar Koester.
Morgana Almeida complementou que esses dados são valiosos para melhorar respostas de defesa civil e políticas públicas. “Como serviço nacional de meteorologia, a gente [o Inmet] tem o dever, a obrigação de desenvolver essas ferramentas, comunicar os oficiais de proteção e defesa civil, para que, na ponta, sejam feitas as ações de preparação e resposta para minimizar os impactos para a população, especialmente as mais vulneráveis”, afirmou a meteorologista.
Com a divulgação antecipada de informações climáticas e da sensação térmica, gestores podem preparar cidades e comunidades para lidar com os efeitos de condições extremas de temperatura.