A globalização e o acesso à internet ampliaram o conhecimento da cultura mundial, especialmente em países como o Brasil. Hoje, é frequente escutarmos músicas pop em inglês, assistirmos séries coreanas e consumirmos pratos típicos de outras culturas no dia a dia, fenômenos que se popularizaram principalmente entre os jovens brasileiros. Essa diversidade cultural é uma das maiores riquezas do Brasil, mas evidencia uma realidade triste: enquanto absorvemos e consumimos o que o mundo oferece, a cultura brasileira permanece subvalorizada fora de nossas fronteiras.
Os brasileiros convivem com a influência de filmes de Hollywood, hits das paradas americanas e tendências de moda ditadas por países europeus. Isso reflete décadas de domínio cultural por nações que souberam usar o entretenimento e a comunicação para expandir suas identidades e tradições. Festividades como o Halloween, o fast-food, sitcoms e até expressões estrangeiras se tornaram comuns no cotidiano do Brasil. Entretanto, a maioria das pessoas de outros países ainda associa o Brasil apenas a samba, carnaval e futebol. Nossa produção cinematográfica enfrenta dificuldades para conquistar espaço em prêmios internacionais, nossa música é frequentemente “exotizada” e nossas obras literárias raramente são traduzidas para outros idiomas amplamente falados.
Essa disparidade não é apenas reflexo de um desinteresse externo, mas também de questões estruturais. O Brasil investe pouco em diplomacia cultural, e nossas produções artísticas têm dificuldade de acessar mercados globais. Em contraste, nações como Coreia do Sul e Estados Unidos transformaram suas culturas em potentes produtos de exportação. Valorizar a cultura nacional é valorizar nossa identidade. Quando o Brasil é reduzido a estereótipos, perdemos oportunidades de expor a diversidade de vozes, histórias e talentos que formam um país tão rico. Além disso, ficamos na posição de meros consumidores, raramente vistos como protagonistas culturais no cenário mundial.
O dia 05 de janeiro foi um marco para o Brasil, quando a atriz e escritora Fernanda Torres se tornou a primeira brasileira a vencer o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama. Ela superou grandes nomes do cinema mundial, como Angelina Jolie, Kate Winslet e Nicole Kidman. Dias antes da cerimônia, Fernanda havia declarado que se sentia vitoriosa apenas por estar indicada e que não acreditava que levaria o prêmio. Quando recebeu o troféu das mãos de Viola Davis e o dedicou à sua mãe, Fernanda Montenegro, uma das maiores artistas brasileiras, ela promoveu um momento histórico comparável à celebração de um Hexa do Brasil. Seu feito também serve como prova do imenso talento brasileiro que, muitas vezes, não recebe o devido reconhecimento internacional.
Fernanda Torres é apenas a segunda brasileira indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz, sendo a primeira sua mãe. Além disso, com essa indicação, ela pode se tornar a primeira latino-americana a conquistar a estatueta. Sua performance e autenticidade abriram uma porta que já deveria estar aberta há muito tempo. Cabe ao Brasil, como nação, manter essa porta aberta e criar oportunidades para que artistas, escritores, músicos e cineastas possam mostrar ao mundo que o Brasil vai além dos estereótipos. Somos uma potência cultural, e o momento de reivindicar esse espaço no cenário global é agora.