A gestão do presidente Lula (PT) é percebida como inferior à de Jair Bolsonaro (PL) em temas como combate à inflação e segurança pública, segundo pesquisa Datafolha. O levantamento entrevistou 2.004 eleitores nos dias 10 e 11 de outubro e fez comparações entre os dois governos em oito áreas. Lula também enfrenta empates técnicos em saúde, meio ambiente e combate à pobreza, temas centrais de sua campanha. Por outro lado, lidera em moradia, educação e geração de empregos, mas com margens estreitas.
No controle de preços, especialmente em alimentos, Lula apresenta seu pior desempenho. Para 50% dos eleitores, ele se sai pior que Bolsonaro, contra 29% que o consideram melhor e 17% que acreditam em um resultado equivalente. Esse cenário reflete também as críticas do mercado financeiro às medidas do governo, vistas como pouco comprometidas com a responsabilidade fiscal, o que pode gerar inflação e impactar a dívida pública. Entre os mais pobres, que ganham até 2 salários mínimos, 43% acham que Lula é pior no combate à inflação, 33% apontam que é melhor e 20% veem igualdade. Já entre os mais ricos, que ganham mais de 10 salários mínimos, 68% avaliam Lula como inferior a Bolsonaro nesse quesito.
Na segurança pública, historicamente uma dificuldade para governos de esquerda, 46% dos eleitores veem Lula abaixo de Bolsonaro, enquanto 29% o consideram superior e 22% os enxergam como iguais. O ex-presidente, militar reformado, é associado a políticas mais duras na área, enquanto Lula enfrenta resistências em iniciativas, como projetos de coordenação entre as polícias, criticados por estados que temem perder o controle local.
Na educação, o cenário é menos desfavorável para Lula, com 42% dos entrevistados avaliando o petista como melhor que Bolsonaro e 38% tendo opinião contrária, configurando um empate técnico dentro da margem de erro de dois pontos percentuais. Outros 18% consideram que ambos apresentam desempenhos equivalentes. A principal iniciativa do governo até o momento é o Pé-de-Meia, programa voltado para alunos do ensino médio.
A melhor avaliação para Lula aparece no tema da geração de empregos: 43% dos eleitores o consideram superior a Bolsonaro, 36% dizem o oposto e 18% avaliam os dois como iguais. Ainda nesse tema, Lula lidera entre eleitores de baixa renda, embora a vantagem diminua em faixas mais altas de renda.
Em áreas onde Lula parecia ter maior vantagem histórica, como saúde, os resultados também demonstram empates. No levantamento, 40% dos eleitores acham que Lula tem desempenho inferior ao de Bolsonaro, enquanto 38% acreditam que é superior, com 20% apontando equivalência. A pandemia de Covid-19 e as críticas ao negacionismo de Bolsonaro fizeram da saúde uma pauta central na campanha de Lula.
No combate à pobreza, novamente um empate técnico, com 41% dos eleitores enxergando Lula como melhor e 40% apontando Bolsonaro como superior. Outros 20% consideram que ambos têm desempenhos semelhantes, um resultado que contrasta com a marca registrada de Lula em seus mandatos anteriores.
Na área ambiental, 38% acreditam que Lula tem desempenho superior ao de Bolsonaro, enquanto 37% o veem como pior e 20% apontam igualdade. A percepção pode ser influenciada por críticas à execução da agenda ambiental do governo, que enfrenta embates internos, como o caso da exploração de petróleo na margem equatorial da Amazônia. O posicionamento contrário do agronegócio e da base de apoio de Bolsonaro sobre regulações ambientais também pode impactar a opinião dos eleitores.
Os resultados da pesquisa antecipam temas centrais para as eleições do próximo ano. Lula, como principal figura da esquerda, deverá enfrentar críticas e comparações com a gestão de Bolsonaro, mesmo com a inelegibilidade do ex-presidente até 2030. Apesar disso, o apoio de Bolsonaro deve ser determinante para o candidato da direita, em um cenário ainda incerto sobre o alcance de sua influência caso esteja enfrentando novos problemas judiciais, como o caso da trama golpista.
