O aumento da fuligem e da fumaça no ar, combinado com o clima seco que afeta grande parte do país, tem gerado preocupação entre especialistas, especialmente em relação à saúde de crianças e idosos. Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), expressou sua preocupação com os danos que a baixa qualidade do ar pode causar ao aparelho respiratório.
“Nós, especialistas, estamos profundamente preocupados com o dano, muitas vezes agudo, [que a baixa qualidade do ar causa] ao aparelho respiratório. Estão causando rinites, asma, bronquite aguda e muita alergia respiratória, comprometendo crianças e, sobretudo, idosos, grupos que são sempre os mais vulneráveis a esse dano”, afirmou Margareth em entrevista à Rádio Nacional na segunda-feira (16).
De acordo com a especialista, a avaliação precisa do dano causado é dificultada pela variedade de substâncias nocivas presentes no ar. “Não podemos, até o momento, definir se será um dano definitivo ou temporário, porque o que está circulando nessa poluição atmosférica – associado à extrema secura do ar, com falta de umidade e de chuva – contém muitas substâncias extremamente nocivas”, explicou a pneumologista.
Margareth detalhou que a fumaça dos incêndios libera uma mistura de gases tóxicos e partículas muito finas que afetam os alvéolos pulmonares. “Elas também produzem monóxido de carbono, dióxido de enxofre, compostos orgânicos voláteis. Todos esses poluentes podem causar ou agravar doenças respiratórias. E, quando se agrava, para pessoas que são asmáticas ou com enfisema pulmonar, é um desastre.”
Ela destacou que, na cidade de São Paulo, os níveis de poluentes já foram superiores aos registrados em Cubatão, no interior do estado. “A Organização Mundial da Saúde recomenda não ultrapassar 45 microgramas, três a quatro dias por ano. Nós estamos ultrapassando 300 microgramas. É muito grave isso”, alertou.
Cuidados Recomendados
Margareth sugere que as pessoas fiquem em casa o máximo possível e ventilarem os ambientes de forma cuidadosa para minimizar a entrada de partículas externas. “É muito importante que as pessoas bebam o dobro do volume de água que costumam beber no dia”, acrescentou.
O Ministério da Saúde planeja atualizar as normas e recomendações sobre cuidados para proteger a saúde da população frente à má qualidade do ar. A SBPT foi convidada para colaborar na elaboração dessas medidas, em uma reunião agendada para amanhã (17) com autoridades ministeriais e especialistas.
Margareth Dalcolmo também previu um grande impacto no sistema de saúde devido ao aumento de doenças respiratórias. “Na verdade, já está trazendo, comprometendo e limitando a capacidade de atendimento de nossas emergências, nossas clínicas da família.”
A especialista orienta que as pessoas devem procurar atendimento médico ao começarem a sentir desconforto e falta de ar. “Se a pessoa já é portadora de uma condição respiratória, certamente tem sua medicação de rotina. Então, talvez, precise apenas usar uma dose maior da sua medicação de rotina”, afirmou.
“[A priori,] quem deve procurar a emergência são as pessoas mais idosas ou crianças que estejam no início do sofrimento respiratório, sentindo-se muito mal e que estejam em uma condição que não pode ser contornada em casa”, completou.
Sobre o uso de máscaras, a médica considera questionável, afirmando que os modelos mais eficazes são caros e menos disponíveis. “As máscaras cirúrgicas ou de outros tecidos protegem muito pouco porque têm poucas horas de duração e não filtram os materiais particulares muito pequenos.”