No ano passado, a Secretaria do Trabalho promoveu o primeiro mutirão de empregos para pessoas com mais de 50 anos na Agência do Trabalhador de Curitiba, possibilitando a colocação de cerca de 500 pessoas no mercado formal. Além disso, o Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR) tem registrado um aumento na procura de estágios por indivíduos com 60 anos ou mais, revelando uma tendência crescente de reinserção profissional dessa faixa etária.
“Profe-vovó” foi o apelido carinhoso que Márcia Regina Espinosa, de 62 anos, recebeu das crianças do Centro Municipal de Educação Infantil Zilda Arns, em Fazenda Rio Grande, onde estagiou nos últimos dois anos. Após voltar aos estudos aos 58 anos, ela encontrou no estágio uma oportunidade para retomar sua carreira na educação infantil, demonstrando que a vontade de voltar ao mercado de trabalho pode mover pessoas em idades que tradicionalmente seriam voltadas à aposentadoria.
O caso de Márcia reflete um movimento maior no estado do Paraná, onde a reinserção de trabalhadores com mais de 50 anos é incentivada pela Secretaria de Estado do Trabalho, Qualificação e Renda (SETR). Em 2023, a SETR intermediou um aumento de 38% nas vagas direcionadas a essa faixa etária, segundo dados da Rede Sine, passando de 8.994 para 12.440 contratações de um ano para outro. No total, foram 21.434 colocações realizadas no biênio.
Para este ano, a Secretaria planeja cursos de qualificação voltados a pessoas com mais de 50 anos, através de programas como Bora Paraná, Qualifica Paraná e as Carretas do Conhecimento. “A nossa meta agora é passar a ter um saldo positivo na geração de empregos para idosos neste ano no Paraná”, afirma o secretário estadual do Trabalho, Qualificação e Renda, Mauro Moraes. Ele reforça o objetivo de ampliar a qualificação desse público: “São pessoas que já têm uma experiência de trabalho, mas que não tiveram acesso ao conhecimento que é demandado hoje pelas empresas. A ideia é de que eles possam ter esses empregos que hoje são ocupados principalmente pela juventude.”
De janeiro a setembro de 2023, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou um saldo negativo de 6.175 vagas para pessoas com mais de 50 anos no estado. Em 2024, esse número caiu para 1.420 no mesmo período, indicando uma evolução significativa na redução do déficit, embora ainda presente.
Márcia, que já foi concursada na Prefeitura de Curitiba até 2000 e se mudou com a família para os Estados Unidos, enfrentou dificuldades para retornar ao mercado quando voltou ao Brasil. “Eu comecei a fazer estágio já no primeiro ano de faculdade. Estagiei por dois anos na Educação Especial, em Curitiba, e depois nos mudamos para Fazenda Rio Grande, onde comecei meu estágio com as crianças pequenas”, relata. “Foram experiências maravilhosas, que fizeram muito bem para mim. As crianças me chamavam de profe-vovó e eu me dava muito bem com as outras professoras, que eram bem mais novas que eu.”
Com disposição e metas ambiciosas, Márcia enxerga a experiência como transformadora. “Antes de começar a estudar, só sabia usar o telefone fixo. Agora uso tudo, mexo no computador. Fiz todo o curso a distância, online, e ainda paguei a faculdade com o dinheiro do meu estágio. Eu me formo em abril e tenho planos de começar uma pós-graduação. Não quero parar tão cedo.”
O CIEE/PR, responsável pela intermediação do estágio de Márcia, disponibilizou 8.738 vagas em 2024 para diversas idades e projeta crescer 10% neste ano. A supervisora operacional Ilsis Cristine da Silva destaca o interesse crescente de pessoas acima de 60 anos e das empresas em contratar esses profissionais. “As próprias empresas têm buscado esse público, ainda como reflexo da pandemia, já que os jovens querem trabalhos home office ou não se interessam por certas atividades. Elas acham vantajoso contratar pessoas mais velhas, porque têm experiência e comprometimento”, explica. As áreas mais procuradas são administração e pedagogia.
O Paraná também se prepara para um envelhecimento populacional significativo. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) com base nos dados do IBGE e do Censo de 2022, até 2027 a população com mais de 60 anos deve superar a de jovens com menos de 15 anos. Até 2046, projeta-se que o número de idosos será o dobro do de jovens, reforçando a importância de iniciativas que promovam a reinserção dessa parcela da população no mercado de trabalho.