Levantamento inédito realizado pelos Cartórios de Registro Civil do Paraná aponta que mais de 2,5 mil crianças e adolescentes de até 17 anos ficam órfãos de pelo menos um dos pais por ano no estado. Os dados, consolidados pela primeira vez em âmbito estadual, revelam que em 2021 a Covid-19 foi responsável por ao menos um terço da orfandade registrada, com 948 crianças perdendo seus pais para a doença, de um total de 2.666 órfãos naquele ano.
O estudo abrange o período de 2021 a 2024, sendo possível realizar o cruzamento dos dados dos CPFs dos pais nos registros de óbitos com os registros de nascimento de seus filhos. Essa integração permitiu averiguar com precisão os números de crianças órfãs no estado ano a ano. Antes de 2019, a inclusão do CPF dos pais no registro de nascimento não era obrigatória, dificultando uma correlação exata entre óbitos e nascimentos – situação que foi consolidada apenas em 2021.
“Os mais de 2,5 mil órfãos registrados no Paraná são um retrato impactante das consequências sociais que enfrentamos nos últimos anos, especialmente durante a pandemia da Covid-19. A orfandade registrada nos Cartórios do Paraná reforça a importância de termos dados precisos para compreender a dimensão do problema e planejar políticas públicas que ofereçam suporte a essas crianças e adolescentes”, destacou Cesar Augusto Machado de Mello, presidente da Arpen/PR. Ele ainda complementou: “Como registradores, nosso papel vai além da documentação: buscamos contribuir para uma sociedade mais informada e preparada para enfrentar desafios como esses”.
Segundo os dados consolidados pela Arpen-Paraná via ON-RCPN, além dos 2.666 órfãos registrados em 2021, o ano seguinte teve 2.262 crianças que perderam ao menos um dos pais. Já em 2023, houve um aumento para 2.563 órfãos, enquanto, até outubro de 2024, o número já alcança 2.725, superando o recorde do ano anterior no mesmo período.
Quando consideradas apenas crianças que perderam ambos os pais, os números são menores. Em 2021, foram 72 casos, enquanto 2022 teve 55 registros. Em 2023, o número voltou a 72, e, até outubro de 2024, 55 crianças perderam os dois responsáveis.
De acordo com os dados nacionais, São Paulo lidera o ranking de estados com maior número de órfãos, seguido pela Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Paraná, especificamente, a Covid-19 fez 1.120 crianças perderem pelo menos um dos pais desde 2019. Se consideradas doenças correlacionadas ao coronavírus, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – 37; Insuficiência Respiratória – 307; e Causas Indeterminadas – 37, o número pode atingir 1.501 órfãos em razão de doenças relacionadas à Covid-19.
Além disso, o estudo mostrou que pelo menos 27 crianças perderam os dois pais diretamente por causa da Covid-19 no Paraná, número que sobe para 39 ao incluir óbitos de doenças relacionadas, tais como SRAG (5 casos), Insuficiência Respiratória (4 casos) e Causas Indeterminadas (3 casos).
O levantamento também reflete o impacto de outras doenças no aumento de orfandade, como Infarto, AVC, Sepse e Pneumonia, que têm sido associadas ao período pandêmico e suas consequências nos últimos anos.