As três indicações de Ainda Estou Aqui ao Oscar – melhor filme, melhor filme estrangeiro e melhor atriz – foram amplamente celebradas no Brasil. Personalidades do cinema, críticos, artistas e admiradores destacaram o grande feito do longa, dirigido por Walter Salles. Um dos destaques é a indicação de Fernanda Torres a melhor atriz, que interpretou a protagonista Eunice Paiva, marcando uma conexão histórica com sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar em 1999 por Central do Brasil, também dirigido por Salles. “Eu, Fernanda Montenegro e Fernando Torres – onde quer que ele esteja – estamos felizes e realizados, em estado de aleluia, pelas indicações de Fernanda Torres e Walter Salles ao importante prêmio do Oscar. Um ganho cultural para o Brasil. Meu coração de mãe em estado de graça”, declarou Montenegro em suas redes sociais.
Segundo o crítico de cinema Chico Fireman, sócio da distribuidora Michiko Filmes, Ainda Estou Aqui alcançou um feito inédito ao tornar-se o primeiro filme brasileiro indicado à categoria de melhor filme em quase 100 anos de premiação. “É imenso para o Brasil e para o cinema brasileiro. Joga os holofotes para nossa arte como nunca aconteceu. Estamos falando de visibilidade e não de importância em si. O cinema brasileiro não precisa do aval internacional, mas quando ele vem ajuda e muito”, argumentou. Ele destacou a relevância do tema político do filme, que aborda as violências da ditadura militar brasileira. “As indicações, de uma certa maneira, também são por causa disso. O tema político, tão universal neste momento da história do mundo, tem tocado muito as pessoas, inclusive fora do país.” Para Fireman, a indicação de Fernanda Torres é simbólica, fechando “um ciclo completo”.
Sérgio Machado, diretor de filmes como Cidade Baixa e Abril Despedaçado, enfatizou que Ainda Estou Aqui marca “um reencontro dos brasileiros com os nossos filmes”. “É um marco no cinema e na cultura brasileira, não apenas pelas indicações, que são importantíssimas, mas porque revisita o nosso passado sombrio com maestria. Ver o Waltinho, a Nanda e a equipe maravilhosa sendo reconhecidos traz uma felicidade indescritível”, celebrou. Joana Henning, CEO do Estúdio Escarlate, também destacou o impacto das indicações. “São mérito da obra e da atuação de Walter Salles e Fernanda Torres, que representam a riqueza cultural do Brasil na cinematografia mundial. Viva Ainda Estou Aqui e viva o cinema brasileiro!”, declarou.
Renata de Almeida, diretora da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, lembrou que a estreia brasileira do filme ocorreu no evento, em outubro de 2024. “Quando eu vi o filme, achei que ele ia fazer história. A indicação ao Oscar é uma maravilha não só para o filme, mas para todo o cinema brasileiro, até para o cinema latino-americano. É um filme que traz temas sobre o passado, mas que também dialogam com o presente e o futuro. Ele trouxe um orgulho coletivo para os brasileiros, como se fosse uma vitória da seleção em Copa do Mundo”, afirmou. Almeida destacou o resgate do prestígio do cinema nacional após períodos de perseguição cultural.
Ainda Estou Aqui é inspirado na autobiografia homônima de Marcelo Rubens Paiva, que narra o desaparecimento de seu pai, o político Rubens Paiva, durante a ditadura militar. A trama foca na história de Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, que criou sozinha os cinco filhos após o desaparecimento e morte do marido em 1971. Na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, o longa concorre contra produções como A Garota da Agulha (Dinamarca) e Emilia Pérez (França). Já na categoria de melhor filme, enfrenta concorrentes renomados, como Duna: Parte 2 e Wicked. Fernanda Torres, por sua vez, disputa o prêmio de melhor atriz com nomes como Demi Moore e Cynthia Erivo.
Chico Fireman apontou os desafios da competição: “Em filme internacional, Emilia Pérez é o franco favorito, e em melhor atriz, a narrativa de comeback de Demi Moore é muito forte. Mas Fernanda, com uma interpretação sóbria e elogiada, pode surpreender. Já em melhor filme, só a indicação já é um grande prêmio.” Para Renata de Almeida, entretanto, há chances reais de conquista: “Se está concorrendo, é porque há chances. Acho que principalmente como melhor filme estrangeiro, mas também a Fernanda está fantástica. O trabalho de divulgação deles no exterior está muito forte. Já podemos comemorar, porque o filme é lindo.”