Especialistas destacam benefícios e desafios da proibição de celulares nas salas de aula

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A restrição ao uso de celulares em sala de aula, aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, em Brasília, recebe o apoio de especialistas da área da educação. A medida, que já passou pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em novembro e aguarda aprovação no Senado Federal para valer em âmbito nacional, é apontada como benéfica para a relação entre professores e alunos.

Para Sandhra Cabral, professora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e autora do portal Educar para Ser Grande, a proibição é necessária, pois crianças e adultos no Brasil não têm sido orientados sobre o uso saudável da internet, o que inclui conhecer tanto seus benefícios quanto seus prejuízos. Entre os impactos negativos, ela cita problemas de cognição, perda do foco e distração.

A especialista, contudo, ressalta que a simples proibição não garantirá uma melhora imediata no foco e na vida das crianças e adolescentes, especialmente durante o período inicial da implementação. “As crianças estarão proibidas de usar o celular dentro da escola, sendo obrigadas a interagir com professores e colegas, o que é bom; mas elas ficarão extremamente ansiosas no início porque estão acostumadas a utilizar os aparelhos o tempo inteiro”, afirmou.

“No primeiro dia letivo de 2025, a pessoa vai para a escola e não pode usar o celular por quatro, cinco horas. Se é integral, por muito mais tempo. Essa criança ou adolescente ficou com o celular na mão as férias inteiras. E aí ela chega lá e não vai ter isso. Então, primeiro será necessário ter uma readequação, os professores terão que criar várias atividades pedagógicas que sejam interativas para as crianças não ficarem sentadas na carteira vendo o professor falar, porque isso vai dar uma ansiedade absurda nesses alunos”, analisou Sandhra.

Uma solução, segundo a professora, é inserir aulas de educação midiática nas disciplinas curriculares de forma interdisciplinar ou transversal. Ela lembra que, apesar da lei federal em vigor desde 1º de janeiro de 2023 que orienta as escolas a incluírem educação midiática, poucas instituições seguiram essa diretriz até agora. “É preciso porque as crianças vão continuar usando a internet sem saber de todos os riscos. E nós vamos continuar tendo fake news e desinformação, porque as crianças não sabem diferenciar fato de opinião. E há uma gama de jovens analfabetos funcionais que também não sabem fazer essa distinção”, afirmou.

Sandhra destacou ainda que a flexibilização do uso dos celulares para fins pedagógicos pode ajudar a minimizar o impacto da ansiedade nas crianças. Segundo ela, isso também demonstra que é possível equilibrar o uso do celular ao mesmo tempo que se aprende.

A pesquisadora Andreia Schmidt, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), compartilha da visão favorável à proibição. Para ela, a escola será um espaço onde crianças e adolescentes poderão se afastar das telas e se engajar em maior interação social com professores e colegas. Essa interação social, segundo Andreia, é crucial para o aprendizado emocional e para lidar com as diferenças e desafios do mundo real.

“O que de fato essa lei vem trazer é a oportunidade para as crianças e adolescentes interagirem no mundo real, tanto com as tarefas, com as demandas do mundo real, como com as demandas sociais, que são as demandas de relacionamento, de interação que a gente precisa aprender ao longo da infância e da adolescência”, concluiu Andreia.

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